Nós – Yevgeny Zamyatin

WeCover

Nós é um romance distópico escrito entre 1920 e 1921 pelo escritor russo Yevgeny Zamyatin. A estória é narrada por um matemático que conta para um interlocutor no passado como é a sua sociedade perfeita, porém profundamente opressora,  em que vive no século XXX.
Ao tomar contato com um grupo opositor que luta contra o ¨Benfeitor¨, o regente supremo do Estado Único, o narrador passa por conflitos ao perceber as imperfeições desse sistema que julgava até então perfeito.
O autor inspirou-se na revolução russa de 1905 e 1917 e no período em que trabalhou supervisionando a construção de navios na Inglaterra.
O livro foi publicado pela primeira vez em 1924, em inglês, nos EUA,  mas ficou censurado na URSS até a abertura do regime soviético em 1988.

Introdução ao Roteiro

Mil anos depois do Estado Único conquistar o mundo inteiro, uma espaçonave chamada Integral está sendo construída para invadir e conquistar planetas extraterrestres.
O engenheiro chefe do projeto, chamado D-503, começa a escrever um relato que pretende que seja levado junto com a espaçonave Integral.
Como todos os outros cidadãos do Estado Único, D-503 vive em um apartamento de vidro que é cuidadosamente observado pela polícia secreta, ou Bureau dos Guardiães. A amante de D-503, que foi designada pelo Estado Único a ter encontros íntimos regulares com ele, é O-90, que é considerada inadequada para ter filhos, e é afligida pelo sua condição na vida.
O-90 é amante também de R-13, o melhor amigo de D-503. Os encontros íntimos são prerrogativa do Estado Único, e cabe a este a escolha dos parceiros.
Enquanto realizava uma caminhada programada com O-90, D-503 encontra uma mulher chamada I-330. É uma mulher estranha para os seus padrões, pois fuma, bebe álcool e flerta desenvergonhadamente com D-503 no lugar de fazer uma requisição formal para um encontro sexual, o que é considerado altamente ilegal pelas leis do Estado Único.
Ao mesmo tempo sentindo repulsa e atração, D-503 luta para resistir a essa atração por I-330.
I-330 o convida para visitar a Casa da Antiguidade, famosa por ser o único prédio opaco do Estado Único, exceto por suas pequenas janelas. Nesse prédio encontram-se objetos de importância histórica, recolhidos e armazenados lá ao longo do tempo. Lá I-330 oferece a ele o serviço de um médico corrupto para fornecer um atestado médico falso que justifique sua ausência no trabalho. Deixando o local horrorizado, D-503 pretende denunciá-la ao Bureau dos Guardiães, mas acaba não conseguindo realizar seu intento.
D-503 começa a ter sonhos noturnos, o que também é considerado um sinal de doença mental, e a passar por conflitos em relação ao que acredita quando começa a ter contato com um grupo que pretende destruir o Muro Verde e reunir os cidadãos do Estado Único com o mundo exterior.

Considerações sobre o livro

Nós é uma sátira futurista distópica, sendo considerada uma das três obras que criaram o gênero, junto com A Nova Utopia, de Jerome K. Jerome, de 1891, e O Tacão de Ferro, de Jack London de 1900.
O livro leva aos extremos os aspectos totalitários e o conformismo da sociedade industrial moderna, descrevendo um Estado que considera que o livre arbítrio é causa da infelicidade e que a vida dos cidadãos deve ser controlada com precisão matemática, inspirada nos sistemas de precisão industrial criados por Frederick Winslow Taylor no século XX.
Zamyatin produziu várias inovações literárias, como os paralelos traçados com a matemática, e é muito curioso a forma como o personagem principal foge de imprecisões e tem pavor de números irracionais. O autor foi muito criativo descrevendo um ambiente de casas, e quase todo tipo de construção, de vidro e materiais transparentes, onde todos estão sempre visíveis e são vigiados por todos os demais.
Em alguns momentos permite-se o fechamento de persianas para algum momento de privacidade, mas são momentos raros e controlados.

Influência nas obras 1984 e Admirável Mundo Novo

George Orwell começou a escrever 1984 alguns meses após ler a tradução francesa de Nós e escrever uma resenha sobre a obra. Existem registros de Orwell dizendo que ” iria tomá-la como modelo para seu próximo romance”.
O crítico Robert Russell, no livro Zamiatin’s We, conclui que ¨1984 partilha tantas características com Nós que não pode haver dúvidas quanto à sua divida geral com esta¨, embora alguns outros críticos considerem as semelhanças superficiais, e que o livro de Orwell é mais sombrio, esquemático e temático que o de Zamyatin, faltando o humor irônico que permeia a obra russa.
Orwell disse que considerava Admirável Mundo Novo, de Aldous Huxley, de 1932, como parcialmente derivado de Nós. Contudo, Huxley afirmava ter escrito sua obra muito antes de ter ouvido falar em Nós.
De qualquer forma, todos inspiraram-se na obra de Jerome K. Jerome, A Nova Utopia de 1891, que descreve um mundo abarcado pelo pesadelo do igualitarismo, onde os habitantes são quase indistintos em seus uniformes cinza e todos têm cabelos pretos e curtos, naturais ou tingidos. Ninguém recebe nomes, apenas números costurados em suas túnicas: pares para mulheres e ímpares para os homens, assim como na obra Nós. A igualdade de A Nova Utopia é levada a extremos como cirurgia para redução de membros, coisa que Zamyatin sugere como a cirurgia de nivelamento de nariz, e indivíduos com imaginação superativa são submetidos a cirurgia para sua redução, o que também tem paralelo em Nós.

5 comentários sobre “Nós – Yevgeny Zamyatin

  1. Pingback: A Nova Utopia – Jerome K. Jerome | Livros do Exilado

    • Boa tarde Rodolfo,

      Sim, existem algumas edições em português, mas acredito que você encontrará apenas em sebos:
      Editoras:
      1 – Antigona (tradução de Manuel João);
      2 – Alfa-Ômega (tradução de Clarice Lima) -> prefiro essa;
      3 – Anima (Lia Alverga Wyler)

      Alguém deve ter feito conversão para epub/mobi, se procurar um pouco no google você encontrará.
      Abraço

Deixe um comentário