Ringworld – Larry Niven

Ringworld__130410203512Ringworld, escrito por Larry Niven em 1970, é um romance de ficção científica do subgênero Hard, ou seja, que demonstra um grande interesse na precisão científica dos conceitos envolvidos. A estória situa-se no universo Known Space, e a recepção do livro foi tão boa que Niven escreveu três sequências e quatro “prequelas”. Ringworld recebeu os Prêmios Nebula em 1970, e Hugo e Locus em 1971, sendo considerado hoje um dos maiores clássicos do gênero.
Infelizmente nenhum livro da série foi traduzido para a língua portuguesa, por favor me corrijam se eu estiver errado!

Conceitos desenvolvidos
Um grande número de conceitos são desenvolvidos por Larry Niven neste livro:

  • Várias espécies alienígenas coexistem, com diferentes níveis tecnológicos. Os puppeteers, kzin, humanos e outras. Os puppeteers são extremamente desenvolvidos tecnologicamente, mas vivem afastados do convívio com outras espécies, e são notórios covardes. Os Kzin são agressivos e já estiveram em guerra com os humanos;
  • Campo de êxtase (Slaver stasis field), que interrompe o fluxo do tempo para objetos dentro dele, assim nada pode atingir o que está dentro do campo;
  • Os puppeteers acreditam que sorte é uma característica genética, e que pode ser selecionada por cruzamentos seletivos. Um sistema de loteria para reprodução na Terra levou à seleção de Teela Brown para a equipe de exploradores, pois vários antepassados dela sempre tiveram a sorte de ter ganhado o direito de reprodução;
  • Existe uma droga que prolonga a vida e preserva a juventude, a Boosterspice;
  • A matéria do Ringworld, chamado de Scrith, é construída com uma resistência à tensão equivalente em magnitude à força nuclear forte;
  • O motor hiperspacial utilizado pelos humanos e kzin é mais rápido que a luz (aproximadamente 122x a velocidade da luz), mas ainda não permite a completa exploração e colonização da galáxia. Os Puppeteers conhecem um sistema mais avançado, mas ainda não liberaram para uso de outras espécies que permite desenvolver velocidades de 421000c;
  • Teletransporte ponto-a-ponto à velocidade da luz. O uso da tecnologia na Terra causou a perda de sentido de posição global, cidades e culturas estão completamente unidas;
  • Culturas tecnológicas podem sofrer rupturas que causam a regressão em direção à religiões. As sociedades podem esquecer que a tecnologia foi desenvolvida pela ciência e acreditar que tratam-se de fenômenos de origem divina.
  • O núcleo galático possui uma grande concentração de estrelas, algumas prestes a tornarem-se novas. A proximidade dessas novas causou uma espécie de reação em cadeia que aconteceu a milhares de anos atrás, gerando uma quantidade massiva de energia que irá destruir todos os planetas habitados da periferia galática. Um explorador utilizando uma nave experimental Puppeteer conseguiu descobrir o avanço dessa onda de choque que irá exterminar a vida na periferia da galáxia. Essa é a razão para o interesse de Louis no sistema de propulsão guardado pelos Puppeteers, pois poderia ser a única forma de evacuar os planetas habitados até a Nuvem de Magalhães, até então inalcançável pelos humanos ou Kzin. A ideia apresentada por Niven é interessante, mas impossível fisicamente. A explosão de uma nova jamais causaria um aquecimento das novas próximas, a única possibilidade de disparar uma nova é o acréscimo de massa. Além disso mesmo com a maior proximidade das estrelas no núcleo galático, a distância entre as estrelas ainda seria absurdamente grande para que alguma explosão pudesse afetar drasticamente outros sistemas na vizinhança.

Introdução ao roteiro
A estória inicia-se em 2850, na Terra, na festa de aniversário de 200 anos de Louis Gridley Wu, que apesar da idade avançada está em condições perfeitas de saúde, graças a avançada medicina da época. Mas Louis está entediado com a vida que vem levando, e está considerando iniciar um viagem sabática além do Known Space, por um ano ou mais, o que já fez em outras ocasiões.
Durante a festa Louis é procurado por um puppeteer, uma misteriosa e avançadíssima espécie que oferece à ele participar de uma viagem exploratória além do Known Space. Logo depois são recrutados Speaker-to-Animals, um Kzin (uma espécie agressiva parecida com um gato, que esteve em guerra com a humanidade em outra época), e uma jovem humana Teela Brown (amante de Louis).
Inicialmente eles viajam até o mundo natal dos puppeteers, onde então descobrem que o objetivo da missão é explorar um mundo artificial em forma de anel, que ocupa completamente a órbita de uma estrela. A órbita tem aproximadamente uma unidade astronômica (igual a órbita da Terra), e a rotação desse mundo gera 99,2% da gravidade terrena, através da ação de força centrífuga. A atmosfera é semelhante à da Terra sendo mantida pela ação da força centrífuga e por paredes de montanhas nas laterais do anel. O mundo é habitável, e a superfície plana interior tem uma área de aproximadamente 3 milhões de planetas Terra. Noites artificiais são produzidas por retângulos gigantescos conectados por cabos ultra fortes, que rotacionam em velocidade diferente do anel principal.
As tentativas iniciais de contato fracassam, e a nave dos exploradores é atacada pelo sistema de defesa automático do mundo anel, e acaba realizando um pouso forçado próximo à uma grande montanha. A nave fica gravemente avariada, e agora o time de exploradores tem que encontrar uma forma de retornar, bem como concluir a missão exploratória original.

Considerações sobre o livro
Ringworld é um dos livros de ficção científica mais importantes dos últimos 50 anos, tendo influenciado vários outros autores e até Space Operas como Star Wars de George Lucas, ajudando a gerar uma indústria bilionária. O mundo anel de Niven é uma das megaestruturas mais impressionantes já imaginadas, utilizando conceitos científicos como a da Esfera de Dyson (recomendo a leitura do artigo da Wikipédia).
Um acontecimento na Convenção Mundial de Ficção Científica de 1971 mostra o quanto o livro é levado à sério: Estudantes do MIT causaram comoção ao gritarem “O Mundo Anel é instável!”. Larry Niven tinha cometido o erro de não incluir propulsores gigantes que ajudariam a manter a órbita em torno do sol, falha que ele corrigiu anos mais tarde em suas sequências. O problema não era Niven estar errado, mas sim que os leitores estavam levando suas ideias tão a sério que começaram a se preocupar com problemas de estabilidade da estrutura! De qualquer forma, o Mundo Anel é algo muito improvável de ser construído, mas talvez não seja totalmente impossível.
Outra característica louvável do livro é romper com o padrão estabelecido por outros vencedores do Hugo, como Heinlein, que preocupavam-se pouco em descrever tecnologia e ciência, e iniciar a fase da ficção científica Hard, com uma pesada exposição tecnológica do universo criado, arte que depois Arthur C. Clark desenvolveu com maestria criando até conceitos científicos que acabaram mostrando-se reais como satélites artificiais e elevadores espaciais.
O leitor que aprecia pelo menos um pouco de ficção científica tem a obrigação de ler esse livro! Afinal, qualquer livro que tenha ganho simultaneamente os prêmios Hugo e Nebula podem ser considerados sagrados para o fã da ficção científica. Apesar de muita coisa ficar sem explicação – o que Niven posteriormente complementou nos outros sete livros da franquia – e do livro não ter a profundidade do livro de Arthur C. Clarke, Encontro com Rama, certamente Niven supera Clarke na questão de escala.
Fica a questão para ser respondida pelos leitores: será nesse caso tamanho importa?

Para ter uma ideia melhor da escala da megaestrutura de Ringworld veja o vídeo abaixo: